O programa de espionagem PRISM não faz controle de 
informações de quem vive fora dos Estados Unidos. Especialistas 
acreditam que todos os brasileiros que acessaram sites monitorados 
também foram vítimas de espionagem.
Para especialistas em internet e crimes digitais, a 
coleta de dados feita pelo governo de Barack Obama, presidente dos 
Estados Unidos, não tem nada de ilegal.
"Ainda que possa chocar ou parecer invasivo, tudo isso 
que está sendo discutido, noticiado e feito nos Estados Unidos está 
dentro do procedimento legislativo normal e regular", garante o advogado
 Renato Ópice Blum, professor de Direito Eletrônico na Universidade de 
São Paulo e na Fundação Getúlio Vargas, além de vice-presidente da 
Comissão de Crimes Eletrônicos da OAB de São Paulo.
Para ele, o problema está no controle de informações de 
quem vive fora dos Estados Unidos. Isso porque, gigantes da internet 
como Google, Facebook, Apple, PalTalk, AOL, Skype e YouTube, citados 
como fontes dos dados, não atendem apenas a usuários norte-americanos.
"O que acontece é que os serviços envolvidos são usados 
por pessoas do mundo inteiro. E então encontramos diferentes leis em 
diferentes países e diferentes comportamentos", enfatiza. Para o 
advogado, a falta de regulamentações e leis internacionais claras 
dificulta qualquer ação jurídica.
Brasileiros vítimas de espionagem
Dados de brasileiros também podem ter sido coletados pelo governo norte-americano por meio do programa secreto PRISM.
"Certamente os brasileiros são monitorados", afirma 
Rafael Rez Oliveira, especialista em internet há mais de 15 anos e 
diretor de uma empresa especializada em consultoria e estratégia de 
marketing digital. Ele acredita que 100% dos brasileiros que acessaram 
essas plataformas monitoradas pelo governo norte-americano podem ter 
sido vítimas de espionagem.
Apesar de toda a discussão na imprensa internacional, 
Rafael duvida da eficácia do monitoramento na prevenção de crimes. Ele 
explica que, por trás das informações que os usuários geralmente 
acessam, existe outra camada de dados muito maior.
"Cerca de 70% de toda a informação está na chamada 
internet profunda e não é percebida pela maioria das pessoas", comenta. O
 especialista afirma que as chances maiores de ocorrerem trocas de 
informações relacionadas a atos de terrorismo ou atividades ilegais 
estão nesse submundo digital, onde funcionariam redes de tráfico ou 
crimes sexuais. 
Já o advogado Ópice Blum adiciona que existe ainda uma 
grande diferença entre a coleta de dados e o uso dessas informações. 
"Existe essa possibilidade de guardar toda essa infinidade de dados, mas
 há uma dificuldade técnica de conseguir tratar, separar e achar as 
informações", compara. 
Sensação de privacidade é falsa
Atualmente, mais 84 milhões de brasileiros têm acesso à 
internet e nem todo mundo age com cautela na hora de divulgar seus dados
 na rede. Rafael Oliveira é taxativo quando o assunto é a segurança de 
dados e, para ele, existe uma falsa sensação de privacidade. Para alguns
 cadastros, o usuário fornece o nome e o endereço eletrônico, mas a 
programação que funciona por trás da interface visível coleta 
informações muito mais detalhadas, como o histórico de navegação ou 
mesmo o endereço físico real de onde está sendo feito o acesso. Além 
disso, ele argumenta que a partir do momento em que o usuário 
disponibiliza informações para um site, ele passa a ser a fonte e não 
mais o dono das informações publicadas.
O especialista em marketing digital explica que essa 
transferência da propriedade da informação é definida na aceitação dos 
termos de uso de um serviço, documento que a grande maioria dos usuários
 aceita sem ter lido. Claro que aceitar o termo de uso é, geralmente, um
 requisito para ter acesso ao serviço. "O Facebook não vai fazer um 
contrato específico para cada pessoa", exemplifica. O que os dois 
especialistas sugerem é que ao saber com exatidão o que será feito com a
 informação, o usuário pode optar ou não por usar o serviço ou ainda 
policiar as informações que vai disponibilizar na rede.
Ópice Blum ressalta a importância de identificar os 
riscos. Particularmente, ele usa quase todas as ferramentas mencionadas 
no esquema do vazamento de informações, mas faz isso com cautela. "Eu 
não tenho uma plena expectativa de privacidade. Sei que tudo o que estou
 enviando ou recebendo, mais cedo ou mais tarde, vai parar em algum 
lugar e sair do meu controle", pondera. Apesar do cuidado sugerido pelos
 especialistas, Ópice Blum afirma que no Brasil o controle é mais ameno e
 são necessárias autorizações judiciais para a coleta e o monitoramento 
de atividades telefônicas e digitais.
No entanto, isso não reduz os riscos. Para o advogado, 
não existe garantia de que dados on-line estejam protegidos. Na empresa 
jurídica que dirige, 15% a 20% dos casos são relacionados ao vazamento 
de informações. Ele conta que vazamentos de dados empresariais 
importantes são muito mais comuns do que se imagina. E nesse caso, nem 
as próprias agências de segurança estão isentas do risco. 
Preocupação internacional
A denúncia do esquema norte-americano é assunto sensível
 na comunidade internacional e especialistas alegam que a União Europeia
 teria conhecimento do esquema desde 2008. O ministro do Interior 
alemão, Hans-Peter Friedrich, afirmou que sua única fonte de informação 
sobre a existência do PRISM foi a imprensa. Apesar disso, ele não 
descartou que autoridades alemãs da área de segurança possam ter se 
beneficiado dos dados obtidos de forma controversa e, assim com os 
norte-americanos, os serviços de inteligência da Alemanha não revelam a 
origem de suas informações.
Apesar do debate, Oliveira acredita que nada deve mudar.
 Ele acredita que pessoas mais politizadas talvez abandonem o uso das 
ferramentas envolvidas.
"Mas isso é fogo de palha. A poeira vai baixar e as coisas vão continuar como estão."
Fonte: Terra


0 comentários:
Postar um comentário