Se os Estados Unidos atacarem a Síria, será a primeira
vez que os norte-americanos entrarão em confronto com um país capaz de
realizar retaliações no ciberespaço.O risco fica ainda maior devido à
aliança da Síria com o Irã, que nos últimos anos reforçou sua capacidade
de ação cibernética.
Ataques cibernéticos organizados já foram realizados
pelo Exército Eletrônico Sírio (EES), um grupo de hackers leal ao
governo do presidente sírio, Bashar al-Assad. Esses hackers já
derrubaram sites de meios de comunicação e empresas da Internet dos EUA,
e agora ameaçam intensificar suas ações como retaliação a eventuais
bombardeios norte-americanos contra Damasco.
"É provável que o Exército Eletrônico Sírio faça algo em
resposta, talvez com alguma assistência de grupos relacionados ao Irã",
disse Richard Clarke, ex-consultor de contraterrorismo e cibersegurança
da Casa Branca.
Pouco se sabe sobre os hackers por trás do EES, e não há
indícios de que o grupo seja capaz de causar destruição em
infraestruturas importantes.
Mas Michael Hayden, ex-diretor da Agência de Segurança
Nacional dos EUA, disse que o EES "parece ser um preposto iraniano", e
talvez tenha uma capacidade muito maior do que já exibiu.
Até agora, a ação mais efetiva do EES aconteceu em
abril, quando o grupo invadiu a conta da agência Associated Press no
Twitter e divulgou mensagens falsas sobre explosões na Casa Branca, o
que derrubou por alguns instantes os mercados financeiros.
Em email na quarta-feira à Reuters, o EES disse que
"nossos alvos serão diferentes" se os militares dos EUA atacarem as
forças de Assad, numa retaliação ao suposto uso de armas químicas contra
civis na semana passada.
"Tudo será possível se os EUA começarem ações militares hostis contra a Síria", disse o grupo em nota.
Questionado sobre a ameaça de terrorismo cibernético, o
porta-voz do Departamento de Segurança Doméstica dos EUA, Peter
Boogaard, disse que o governo está "acompanhando de perto a situação,
colabora ativamente e partilha informações diariamente com parceiros dos
setores público e privado".
Um porta-voz do Departamento de Defesa disse que não
discutiria ameaças específicas, e outra fonte do Pentágono afirmou que
até a noite de quarta-feira nenhuma atividade incomum havia sido
detectada.
Irã mostra as garras
Especialistas em segurança cibernética dizem que o Irã melhorou sua capacidade de ação no mundo digital depois que os EUA usaram o vírus Stuxnet para atacar o programa nuclear iraniano.
Autoridades de inteligência norte-americanas atribuem a
hackers patrocinados pelo Irã uma série de ataques de "negação de
serviço distribuído" contra muitos sites de bancos dos EUA. Em ataques
desse tipo, conhecidos pela sigla inglesa DDoS, milhares de computadores
tentam acessar simultaneamente o site-alvo, sobrecarregando-o e
tornando-o inacessível.
Em três ondas de ataques desde setembro, consumidores
relataram instabilidades na conclusão de transações digitais em mais de
12 bancos, incluindo Wells Fargo, Citigroup, JPMorgan Chase e Bank of
America. Os bancos já gastaram milhões de dólares para barrar os hackers
e restaurarem os serviços.
Pesquisadores dizem que o Irã também se infiltrou em
companhias petrolíferas ocidentais, e que pode tentar destruir dados,
embora isso possa intensificar o risco de retaliação por parte dos EUA.
As coisas no ciberespaço ficariam ainda mais complicadas
se a Rússia, aliada do Irã e da Síria, interviesse. Ex-funcionários do
governo Obama dizem que a Rússia, fornecedora de armas para a Síria, tem
uma capacidade cibernética quase tão grande quanto a dos EUA.
Mesmo que o governo russo não aja diretamente, hackers
privados do país se equiparam os chineses na sua capacidade e vontade de
conduzir ataques "patrióticos". Especialistas cibernéticos dizem que os
hackers russos já atacaram sites governamentais e privados da Estônia e
Geórgia.
Os servidores do EES estão baseados na Rússia, e essa
aliança pode se fortalecer se os acontecimentos na Síria ganharem rumos
mais dramáticos, segundo Paul Ferguson, da empresa de segurança da
Internet ID.
"Já temos uma situação geopolítica ruim", disse
Ferguson. "Isso poderia contribuir com toda a narrativa que não queremos
ver acontecer."
Nesta semana, em meio aos crescentes rumores sobre um
ataque dos EUA à Síria, o Twitter, o Huffington Post e o The New York
Times sofreram ataques cibernéticos reivindicados pelo EES.
O caso mais grave foi do NYT, cujo site ficou várias
horas fora do ar. Especialistas em segurança disse que o tráfego estava
sendo redirecionado para um servidor controlado pelo grupo sírio.
O EES planejava divulgar mensagens antiguerra no site do
Times, mas o servidor caiu por excesso de tráfego, disse o grupo por
email. Na noite de quarta-feira, alguns usuários continuavam sem acesso
ao site NYTimes.com.
Os hackers pró-Assad invadiram o site do jornal
norte-americano por meio de um provedor de serviços australiano, o
MelbourneIT, que vende e administra nomes de domínios da Internet, num
fato que, segundo especialistas, mostra a vulnerabilidade de grandes
companhias que usam provedores externos.
Fonte: Terra
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